Rastro de destruição: transporte de urânio é feito de forma irresponsável

São 636km entre Caetité e o Porto de Salvador. O que poderia ser uma bonita viagem pelo coração do maior estado no Nordeste, torna-se um pesadelo diante da carga que sai das minas e percorre todo esse chão, colocando milhares de pessoas em risco. O urânio retirado do subsolo do sertão sai em caminhões, como se fosse uma carga qualquer.

O chamado yellow cake, urânio no primeiro estágio de industrialização, vai de Caetité ao porto por via rodoviária em estradas que não são compatíveis com o transporte de um material radioativo. Com o símbolo do nuclear, passa por comunidades e há muito trânsito.

O Porto de Salvador também não é adequado para esse tipo de carregamento. O plano de emergência do terminal não permite armazenamento de material radioativo. Quando os caminhões chegam já é preciso ter um navio a postos para o embarque.

Em 2011 houve um erro de logística grave, e os caminhões chegaram ao porto sem poder descarregar o urânio. Ficaram estacionados em áreas urbanas de comum acesso, sem fiscalização adequada, onde também é completamente inadequado. A sociedade civil na época protestou. Salvador é a maior capital do Nordeste, não deveria estar exposta a esse nível.

Os riscos entre o trajeto dessas duas cidades se agrava com a ameaça de continuidade da exploração em larga escala do urânio. Caetité e sua região estão sendo colocadas em riscos ambientais latentes, com a comunidade sertaneja duplamente atacada. Além da produção de urânio, a cidade recebe complexos eólicos centralizados. "Precisaríamos de uma boa discussão sobre o futuro que queremos para Caetité que é uma região que tem uma cultura significativa e que não pode estar ameaçada por esses mega empreendimentos que estão sendo implementados na região", alerta Renato Cunha, coordenador do Gambá, Grupo Ambientalista da Bahia.

Os imensos trajetos nacionais e internacionais necessários para o transporte do urânio desmistificam o argumento mentiroso da INB - Indústrias Nucleares do Brasil de que não há emissão de carbono na geração de energia nuclear. Além do maior impacto ambiental que é a emissão de gases radioativos em grande escala e toneladas de lixo atômico. Um rastro de destruição por onde o nuclear passa.

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