Futuro Ameaçador: Nordeste brasileiro está sob a sombra da ameaça nuclear

A riqueza cultural e a força para superar adversidades das mais amargas são marcas do povo do Nordeste. Mas a luta agora é contra um inimigo muito mais assustador. A ameaça nuclear, já presente com a mineração de urânio em Caetité, na Bahia, estica seus tentáculos na direção de Pernambuco e do Ceará.

Comunidades tradicionais estão em risco. Indígenas, quilombolas, campesinos e ribeirinhos são abordados com falsas promessas, sobretudo de empregos que não chegarão até eles. Se houver oportunidade para essa população numa construção nuclear de grande porte, será em posições onde o trabalho é pesado, perigoso e mal remunerado. Os bons salários serão destinados a engenheiros e técnicos trazidos do exterior ou de grandes cidades. História já vivida em outras cidades brasileiras que receberam empreendimentos nucleares de grande porte e viram aumentar de maneira alarmante os problemas sociais.

Há ainda outros prejuízos que ficarão na conta de quem vive numa região de escassez hídrica. Tanto a mineração quanto as usinas necessitam de água em larga escala – recurso valioso para o povo sertanejo, que aguarda cada chuva como uma bênção.

Opará: complexo nuclear à beira do rio leva perigo às comunidades

O rio São Francisco é um dos alvos da voracidade nuclear. As comunidades do sertão pernambucano resistem à implantação de uma central nuclear em Itacuruba. Mesmo com diversas vitórias, o projeto avança de forma sorrateira e espalha medo. "Tivemos no início do chamado uma grande quantidade de pessoas abraçando a causa contra o projeto. Mas hoje, no município, algumas pessoas mudaram de opinião quando foi falado sobre dinheiro que poderia entrar na cidade. Pelo fato do projeto não ser discutido abertamente lutamos no escuro buscando sempre mais apoiadores da causa contra projetos nucleares no Brasil e mundo", alerta Sandriane Lourenço, professora e liderança indígena do povo Pankára Serrote dos Campos.

Os interesses econômicos são poderosos. Porém a Articulação Sertão Antinuclear (ASA) e a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírit... (APOINME) estão enfrentando e vencendo essa especulação do lobby nuclear, somando forças também com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e com a Articulação Antinuclear Brasileira (AAB).

Urânio em Santa Quitéria já deixa prejuízos

A 750km de Itacuruba (PE), os moradores de Santa Quitéria, no Ceará, veem o olhar da ganância desejar sua preciosa água para lavrar minério: fosfato e urânio. O projeto da lavra tem uma demanda de 855.000 litros de água por hora. Seria o suficiente para abastecer 150.000 pessoas.

Os prejuízos anunciados pelo Consórcio Santa Quitéria podem ser muito maiores do que aquilo apresentado no plano do lobby nuclear. Os riscos causados pela radioatividade para as comunidades do entorno são imprevisíveis e podem ser muito maiores do que os apresentados nas diversas audiências públicas que até então conseguiram provar a recusa popular ao empreendimento.

As explosões em solo com urânio poluem a atmosfera espalhando rapidamente o gás radônio, associado ao câncer de pulmão, que decompõem-se em polônio, altamente perigoso. As partículas se depositam na terra que também é contaminada pela água de rejeito da operação. Nas pessoas e animais, o risco imediato é o câncer. Mas as mutações genéticas mesmo dos seres que saírem de lá serão transmitidas para os descendentes. Um levantamento realizado entre 2012 e 2022 mostra que a média de mortalidade causada por câncer na região é 156% maior que a média nacional. "As pessoas que morreram ou que adoeceram e conseguiram se curar são pessoas que ou trabalharam na mina ou tiveram contato com quem atuou nas galerias", aponta Erivan Silva, membro da Articulação Antinuclear do Ceará.Ele ressalta que não há estudo científico formal que comprove essa relação, mas a subnotificação de casos de câncer é uma constante registrada por pesquisadores do movimento em territórios afetados e faz parte da estratégia nuclear.

As comunidades tradicionais temem a contaminação direta e a dispersão radioativa nos transportes do urânio e do fosfato. Galerias foram construídas nos anos 1970 e 1980 para testes e isso já deixou suas marcas negativas nos arredores. Se houver a produção em larga escala, o urânio será transportado até o Porto de Pecen, na Região Metropolitana de Fortaleza, levando riscos também a outras cidades.

Projetos deste porte guardam segredos sobre pontos críticos, como os planos de emergência nuclear. Um acidente poderia contaminar por séculos água e solo que garantem a vida das comunidades sertanejas. Não há desenvolvimento econômico que justifique o sacrifício da saúde das pessoas. O Brasil precisa ser livre do nuclear.

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