Descarte impossível: lixo nuclear é problema sem solução e será ameaça perigosa durante os próximos séculos

As pequenas placas parcialmente cobertas de mato alto ao longo do arame farpado trazem alerta: "Perigo! Risco de radiação". Mas a ameaça à vida dos moradores de São Paulo, Caldas em Minas Gerais e Abadia de Goiás é muito maior do que os discretos alertas podem fazer crer.

Os depósitos de lixo nuclear no Brasil, decorrentes da atividade perigosa, são mal fiscalizados e com pouca segurança. Na maior cidade de todo o hemisfério sul, um terreno mal cuidado ao lado de uma gigantesca igreja que atrai milhares de fiéis para acompanhar as missas de Padre Marcelo Rossi, estão galpões com toneladas de resíduo da extinta Usina Santo Amaro, ou Nuclemon. As operações duraram 50 anos mas após o encerramentos, na década de 1990, o que sobrou foi deixado para trás, sem o cuidado apropriado. Nesta localidade, é praticamente impossível ter um plano de emergência para o caso de um acidente numa área densamente povoada.

Caldas, em Minas Gerais, abrigou a primeira mineração de urânio do país de onde saíram 1200 t de concentrado de urânio. Hoje, abandonada, deixou um rastro de destruição. Uma área morta com o tamanho de quase 2.000 campos de futebol parece um cenário de filme de terror. Há também barragens de águas ácidas que estão no limite: um risco de um desastre ambiental de proporções gigantescas. As Indústrias Nucleares do Brasil (INB) calam sobre o tamanho do problema ou possíveis soluções para a região, enquanto moradores do entorno adoecem.

“Não há relacionamento com a comunidade local. Existe uma propaganda institucional que sugere esse relacionamento, mas, na prática, grupos que questionam as atividades da INB sempre encontram maior dificuldade na promoção do diálogo ou debate”, lamenta Silvana Torquato, membro da AAB Núcleo Caldas.

Goiás e presença alarmante dos restos do acidente com Césio-137

Palco de uma das maiores tragédias nucleares do mundo, Goiás também convive com lixo perigoso. Apesar de ter um plano de emergência mais estruturado e de ser fiscalizado pela Agência Internacional de Energia Atômica, a unidade fica numa unidade de conservação vizinha à capital. A cidade de Abadia de Goiânia foi condenada a receber um depósito com os resíduos do acidente radiológico com Césio-137 que vitimou centenas de pessoas, quatro delas mortas em questão de dias.

Foram necessários apenas 19g do material perigoso para destruir dezenas de famílias e por séculos a população terá que conviver com a proximidade do material altamente perigoso. Uma das vítimas da tragédia, que também atingiu os seus filhos e sobrinhos, Suely Silva acredita que o país não aprendeu com o desastre. "Eu acho que ainda pode ocorrer outro acidente", teme.

A sociedade cobra uma resposta sobre o futuro destas áreas já condenadas e também um posicionamento firme para que não tenhamos novas regiões precisando conviver com o medo e os prejuízos à saúde.

"O país não necessita de energia de matriz nuclear. Não é energia limpa, pelos resíduos que produz e que levam séculos para o decaimento da radioatividade. O país é rico em recursos naturais para a produção de energia elétrica", avalia Sonia Felipone, conselheira do CADES Santo Amaro (Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura da Paz em Santo Amaro) terapeuta ocupacional que acompanha há 20 anos a situação dos trabalhadores do Nuclemon.

O nuclear tem graves consequências. O Brasil precisa ser livre desse perigo.

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