Bomba-Relógio: depósito de lixo nuclear na zona sul de São Paulo expõe população

Interlagos abriga "lixão" de elementos radioativos em terreno mal sinalizado e com pouca segurança, vizinho a uma das maiores igrejas da metrópole.

Na zona sul da cidade mais populosa do Brasil, do continente americano, da lusofonia e de todo o hemisfério sul, e a quinta cidade mais populosa do mundo funcionou por mais de 50 anos a Usina Santo Amaro, ou Nuclemon.

A unidade realizava o tratamento químico da chamada monazita, um tipo de areia usado na obtenção de terras raras que após purificadas são utilizadas na fabricação de materiais para ressonância magnética nuclear, sensores e certos tipos de imãs. O grande problema é que um dos seus subprodutos é um composto com alta concentração de elementos radioativos como urânio e tório conhecido como torta II.

A ANTPEN – Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energ... luta há décadas na defesa dos pioneiros neste tipo de atividade altamente perigosa. Hoje, denunciam uma série de irregularidades não apenas do passado, mas também do presente naquilo que restou em São Paulo. Muitos trabalhadores da Nuclemon morreram com câncer e silicose, doenças provocadas pela contaminação no manejo da monazita sem equipamentos adequados.

Após o grave acidente com Césio 137 em Goiânia, os trabalhadores da Nuclemom tiveram ciência da exposição a que estavam submetidos, sem nenhum equipamento de segurança, o que levou ao encerramento das atividades nos anos 1990. Uma CPI municipal concluiu que o armazenamento de rejeitos nucleares oferecia risco aos trabalhadores da usina e também à população vizinha às instalações.

Ainda assim, o depósito permanece na esquina da Avenida Interlagos com a Avenida Miguel Yunes com segurança precária. Ao lado do lixo radioativo está um dos maiores templos católicos do país, a igreja do padre Marcelo Rossi, que aumenta muito o fluxo de pessoas na região, romeiros de todo o país.

Sonia Felipone, terapeuta ocupacional no SUS por mais de 25 anos, trabalhou no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Santo Amaro e é Conselheira do CADES Santo Amaro – Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura de Santo Amaro. Ela acompanha o caso há 20 anos e avalia que as autoridades tratam o caso com indiferença. "O CADES já fez moções para o imediato descomissionamento do depósito, com retirada de forma segura e transporte para depósito definitivo, que inexiste", conta.

Sonia defende que o país não necessita de energia nuclear na matriz, tendo alternativas limpas e renováveis, e explica que Interlagos é um depósito intermediário e não oferece segurança plena. "Além disso encontra-se em meio a região densamente povoada, alto tráfego de veículos e vizinho a uma Catedral Religiosa, onde circulam fiéis locais e provenientes de várias partes da cidade e do país.

Especialistas consideram o depósito de lixo nuclear dentro de uma metrópole como uma bomba-relógio. E pessoas que convivem com o local sequer sabem do risco que correm todos os dias. O Brasil precisa ser livre do nuclear.

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