CORREIO BRAZILIENSE - DF | ECONOMIA 15/07/2014

» BÁRBARA NASCIMENTO

A retomada dos investimentos brasileiros em energia nuclear deve estar na pauta do presidente russo Vladimir Putin nas reuniões com Dilma Rousseff nos próximos dias, durante a Cúpula dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Assim como outros países ao redor do mundo, o Brasil deixou de lado o programa de energia nuclear, sobretudo após o desastre de Fukushima, no Japão, quando um terremoto seguido de tsunami causou vazamento de combustível e a consequente desativação de 48 usinas do tipo no país. Longe da lista de prioridades do governo, Angra 3, que deveria ter ficado pronta neste ano, não deve sair antes de 2018, segundo as estimativas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

De olho no mercado brasileiro, a estatal russa Rosatom deve abrir, ainda este ano, um escritório no Rio de Janeiro. O objetivo é aumentar a pressão sobre o governo brasileiro, a fim de que retome o programa nuclear do país. A Rússia propõe financiamento de até 80% do custo de uma possível usina nuclear, garantia de combustível e destinação para os rejeitos.

Apesar de as conversas nesse sentido entre Rússia e Brasil já terem começado, o governo se esquiva e não apresentou qualquer sinal de que deve retomar os investimentos. "O ponto-chave com o Brasil é a decisão do governo. Por enquanto, nada foi anunciado ainda", disse o CEO adjunto e chefe dos negócios intenacionais da Rosatom, Kirill Komarov. Segundo ele, é muito importante entender qual é o modelo que o governo escolherá para a construção e a operação de uma futura planta nuclear: se será ligada apenas ao Estado ou serão permitidos investimentos privados. E, nesse caso, se esses investimentos poderão ser estrangeiros. "Nós estamos esperando pacientemente por essa decisão e continuamos interessados no mercado nuclear brasileiro", explicou Komarov, durante a AtomExpo, em Moscou.

Retorno

Além do Brasil, a estatal mira, ainda, a Argentina, na tentativa de superar de vez a "síndrome de Fukushima", expressão utilizada pelo presidente da empresa, Sergei Kirienko, para o freio nos investimentos após o desastre. Os empresários do setor alinham o discurso de que, considerada entre as mais "limpas", a energia nuclear é a alternativa para evitar o Aquecimento Global.

"A América Latina como um todo é um mercado muito interessante para a Rosatom. Não é novo para nós, temos parcerias com alguns países em pesquisas de reatores. Para a Argentina, fornecemos isótopos (Molybdenum-99) para tratamentos médicos e diagnóstico de doenças oncológicas. Nós temos experiência ainda no fornecimento de urânio enriquecido para usinas argentinas e brasileiras", acrescentou Komarov.

Ele pondera, no entanto, que, quando o assunto é o financiamento de novas usinas, ainda não há resposta também do governo argentino. Nesse caso, a Rússia encontra barreiras na competição chinesa. O país oferece 100% de financiamento para novas usinas e vem se consagrando como celeiro desse tipo de energia. Dos 72 reatores em construção no mundo, 11 estão na China. A repórter viajou a convite da Rosatom.

 

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