Por Zoraide Vilasboas, para a Articulação Antinuclear Brasileira
O 1º Fórum Social Mundial Antinuclear Civil e Militar, organizado por dez organizações da sociedade civil francesa, selou a união de dois campos de luta que vinham atuando historicamente em separado: contra o nuclear civil e contra o nuclear militar. O evento reuniu, de 2 a 4 de novembro, mais de 300 pessoas, sendo a maior parte de franceses, mas também de 20 outros países, apontando novas possibilidades na mobilização global pelo banimento da produção e uso de armas atômicas e contra a energia nuclear.
A busca de unidade começou desde o início da organização da atividade, com a adoção da metodologia do Fórum Social Mundial (FSM), que oferece espaços abertos, estruturados horizontalmente, com atividades autogestionadas para a troca de informações, experiências, reflexões e propostas de ações articuladas planetariamente pela construção do “outro mundo possível.” Com este objetivo foi constituído um Comitê de Facilitação, fundamental para os resultados obtidos.
Para Chico Whitaker, um dos fundadores do FSM e representante da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, o fórum representou um passo significativo frente às divisões que a luta antinuclear francesa apresenta. “Com representantes de diferentes opções da luta antinuclear, os membros do Comitê basearam seu trabalho no respeito mútuo, sem pretender impor suas posições no programa do Fórum, abrindo caminho para a ampliação da união, com maior diversidade ainda.”
Chico explicou que a meta era, de forma explícita e intencional, reunir militantes de dois tipos de luta –contra o nuclear civil e contra o nuclear militar– que tradicionalmente ocorriam de forma separada. “Essas lutas têm evidentes e múltiplas relações –o uso civil nascendo do militar e passando a alimentar a expansão do militar, e ambos dependendo do mesmo combustível– e sua articulação permitirá aumentar as respectivas eficácias. Assim, foi possível comemorar, no Fórum Antinuclear de Paris, a vitória das organizações autoras da campanha mundial que conseguiu construir o Tratado de Proibição de Armas Nucleares junto à ONU, assinado por 122 países. Por isto, ganharam o Nobel da Paz/2017.”
Naoto Kano, primeiro ministro do Japão no momento do acidente de Fukushima, impossibilitado de vir pessoalmente enviou sua mensagem por vídeo.
A doutoranda pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Gitana Nebel, membro da Articulação Antinuclear Brasileira, informou que aconteceram três plenárias –abertura, testemunhos e fechamento– projeção de filmes e 34 atividades sobre diversas problemáticas, como a situação dos trabalhadores do nuclear em vários países. O documentário, “A Cúpula do Sol”, do japonês Tamyioshi Tachibana, estreou na França no dia da abertura do evento, divulgando detalhes pouco conhecidos dos cinco dias seguintes ao acidente de Fukushima; também foi combinada a ampliação de relações entre as organizações, considerando que a luta antinuclear tem menos possibilidades de sucesso se for levada de forma isolada frente ao mundial e poderoso lobby nuclear.
Segundo Gitana, entre as estratégias debatidas em oficinas e plenárias, foi ressaltado “o interesse em centrar a atenção na luta contra a mineração de urânio, fase inicial da cadeia de produção da energia nuclear, onde as primeiras vítimas expostas à radiação são os trabalhadores, e considerada a maior causa de poluição em países do terceiro mundo.” Além disso, foi acentuada a importância da formação e informação, para que as pessoas não sejam enganadas pela mentira que caracteriza a ação pró-nuclear civil e militar. “Nesse sentido, um ponto importante foi a troca de materiais informativos, pesquisas científicas e de banco de dados virtuais entre os participantes do fórum, como forma de explicitar as realidades dos países que possuem atividades ligadas ao ciclo nuclear".
Após o encerramento do fórum, vários participantes foram à cidade de Bure, a 300 km de Paris, para uma visita de apoio e solidariedade aos militantes antinucleares que lutam, sob repressão policial, contra a construção, nessa cidade, de um enorme depósito, “pela eternidade”, de rejeitos de alta radioatividade das usinas nucleares francesas.
Este fórum temático foi o terceiro de uma série de encontros e inciativas centradas na necessidade de internacionalizar a luta, questão discutida por participantes brasileiros, japoneses e franceses no Fórum Social Mundial/2015, na Tunísia. Os japoneses ali presentes decidiram realizar em 2016 um fórum internacional em Tóquio, iniciado com uma visita a Fukushima, junto com representantes de cinco países da região, reunidos num encontro do Fórum Asiático contra Armas Nucleares. Em Tóquio, os integrantes do fórum participaram de uma marcha de 50.000 pessoas, contra a reabertura das usinas nucleares fechadas após o acidente de Fukushima.
A mobilização vai ampliando. Os canadenses decidiram realizar um segundo fórum antinuclear durante o Fórum Social Mundial/2016, no Canadá. Presentes em Montreal, os movimentos antinucleares norte americanos, franceses, japoneses, brasileiros e canadenses propuseram construir uma rede mundial antinuclear, que, divulgada pela internet, foi apoiada por 448 pessoas e organizações de 47 países. Organizações brasileiras iniciaram então a construção de um site mundial para apoiar a construção da rede (nuclearfreeworld.net). Na volta do fórum do Canadá, os franceses articularam com organizações antinucleares da França a realização do 1º Fórum Social Mundial Antinuclear Civil e Militar em Paris, antes da COP 23, na Alemanha.
Nesse evento, o Movimento Ibérico Antinuclear –que reúne organizações da Espanha e de Portugal– anunciou a intenção de realizar o próximo Fórum Social Mundial Antinuclear Civil e Militar/2019, em Madrid. A mobilização é crescente e a expectativa é que siga em expansão, devendo ocorrer novas atividades globais antinucleares já na próxima edição do FSM/2017 de 13 a 17 de março em Salvador (BA). Muito animadora mesmo são as novas que o Chico acaba de enviar: Finlandeses, que estavam em Paris, decidiram programar um fórum na Finlandia em 2018. Também em agosto/2018, no sul da França, acontecerá um acampamento antinuclear internacional de verão.
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