De Chernobyl a Angra 3, o que estamos esquecendo?

Há 30 anos acontecia o maior acidente nuclear da história, na usina nuclear de Chernobyl. Embora tenha acontecido na Ucrânia e os efeitos mais severos se notem também nas vizinhas Rússia e Bielorrúsia, o aumento na radioatividade foi detectado no mundo todo. Morreram 31 pessoas e é impossível contabilizar quantos foram vítimas de mutação congênita, adoeceram e ainda adoecem pela radiação que continuará lá por milhares de anos. A estimativa é que hoje sejam registrados 74 vezes mais casos de câncer atualmente do que antes do acidente na área diretamente atingida. A explosão no quarto reator da usina nuclear de Chernobyl foi causada por uma mistura de falha humana dos operadores e deficiência no projeto da usina.

Há mais ou menos 5 anos, outro acidente nuclear gravíssimo acontecia no Japão, em Fukushima. Embora tenha acontecido após um terremoto seguido de tsunami, o acidente não pode ser atribuído à natureza. Mais uma vez provava-se na prática que o ser humano, ao lidar com uma tecnologia tão perigosa, não consegue prever e evitar todos os riscos que envolvem a fusão nuclear.

Há 4 anos atrás um estudo do instituto alemão Max Planck chegou à conclusão de que o mundo corre o sério risco de passar por um acidente nuclear do porte do de Chernobyl e Fukushima a cada 10 ou 20 anos.

Ontem, o número de reatores nucleares em atividade no mundo era de 444. Estão em construção mais 64.

Ontem, no Brasil, um executivo de empreiteira contratada para construir um desses reatores nucleares justificou o pagamento de propinas à estatal responsável pela usina de Angra 3 com a seguinte declaração à justiça:  "Era uma obra muito complexa, se não houvesse esforço do cliente, liberação ambiental... isso era fator de risco grande, que aumentaria prejuízo de forma substancial. Na verdade, o objetivo era que não nos prejudicasse em termos de andamento, que não sofresse malefício ou atrasos".

Não são prejuízos como os sofridos pela população de Fukushima, da Rússia, Bielorússia e Ucrânia que eram temidos pela empreiteira que constrói a terceira usina nuclear brasileira. E sim os prejuízos materiais da empreiteira, seus negócios. Como acreditar na segurança de uma usina que, além de ter seu projeto totalmente ultrapassado, já nasce sob o signo da corrupção e favorecimento?

Um dia depois dessa infeliz declaração, mostrando o quão frágil são as proteções que cercam a construção de uma usina nuclear, precisamos nos lembrar cada vez mais de Chernobyl para que não sejamos pegos de surpresa novamente pela falibilidade humana quando as consequências são tão desastrosas.

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