Documentários revelam a herança de Fukushima

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=RejB7NIqAfw

TÓQUIO - Embora a tragédia já não desperte mais tanta atenção do mundo, a radiação que sai da usina de Fukushima ainda é uma ameaça no Nordeste do arquipélago japonês. Uma série de produções independentes têm ajudado a contar esse capítulo dramático da História do Japão que ainda não teve um ponto final. Documentários rodados na região, onde nem todo mundo se arrisca a ir, registraram o impacto do acidente sobre a vida de dezenas de milhares de pessoas, que não sabem se um dia conseguirão retomar suas rotinas ou se morrerão sem ver uma solução para a maior crise nuclear desde Chernobyl.

Câmera na mão e poucos recursos no bolso, diretores estrangeiros e japoneses conseguiram captar a dimensão do pesadelo iniciado há dois anos, quando um terremoto provocou a tsunami que invadiu a Usina de Fukushima, desestabilizando seus reatores. Enquanto as informações oficiais pecam pela falta de transparência, vários documentários funcionam como registro da herança radioativa, reunindo depoimentos de quem viu a contaminação se espalhar.

Hoje se sabe que o governo japonês escondeu a verdade. O derretimento das barras de combustível dos reatores só foi confirmado mais de dois meses depois da tsunami. Não há consenso entre especialistas sobre os efeitos da radiação na população, mas mesmo quem optou por ficar na região desconfia da garantia de que a situação está sob controle. Nos últimos dias, Fukushima voltou ao noticiário com a confirmação de que uma grande quantidade de água radioativa está vazando da usina, e ameaça contaminar o Pacífico.

Logo após o desastre de 2011, o professor de inglês Chris Noland decidiu trabalhar como voluntário nas cidades atingidas. O americano nunca havia produzido um filme, mas gravou o que viu e mergulhou numa investigação sobre o acidente nuclear, buscando ir além das declarações oficiais. O resultado é o documentário “Surviving Japan”, apoiado por Yoko Ono, autora da trilha sonora. O filme vem sendo exibido em festivais internacionais e em março passou por Nova York e Califórnia.

— Quando comecei a filmar, queria ser um meio para que as pessoas pudessem falar e expressar seus temores, assim se sentiriam ouvidas. A mídia não estava cobrindo essas histórias, e os moradores estavam tão confusos que não sabiam a quem recorrer. Havia desinformação de todos os lados — conta Noland, que continua voltando a Fukushima para registrar a rotina dos moradores.

“Nuclear Nation” (Nação Nuclear), do diretor Atsushi Funahashi, exibido no Festival de Berlim, conta a história dos moradores de Futaba, vilarejo dentro da zona de exclusão, a três quilômetros da usina. Expulsos pela radiação, 1.400 desabrigados se mudaram para uma escola desativada a 250 quilômetros de suas casas, num subúrbio de Tóquio. É o que o diretor descreve como o primeiro campo de refugiados nucleares desde Chernobyl. Durante meses, ele filmou a espera de quem deixou tudo para trás, um grupo massacrado pela monotonia da vida no abrigo. Futaba já foi um lugar que tinha orgulho da central nuclear. Hoje está deserta.

O cineasta Ian Ash já lançou dois documentários sobre Fukushima, “In the Grey Zone” (Na zona cinza) e “A2”. O último segue um grupo de crianças que, 18 meses após o vazamento nuclear, apresentou nódulos na tireoide (A2 é o termo médico para classificar exames positivos). Elas moram na cidade de Date, onde a população não recebeu ordem para sair, apesar dos índices de radiação acima do recomendável. O documentário mostra a luta das mães contra as autoridades, que continuam minimizando a gravidade da situação.

O filme acaba de ser premiado em Frankfurt. Segundo Ash, a maior parte do público se mostra surpresa ao descobrir que os problemas em Fukushima não terminaram.

— Minha esperança é que as pessoas saibam o que está acontecendo e façam perguntas. Queria provocar a discussão — disse o diretor americano em Tóquio, onde vive.

Várias outras produções, em geral críticas ao lobby nuclear, vêm sendo exibidas em espaços alternativos, tentando manter vivo o debate. Outras, mais esperançosas, não escondem o sofrimento, mas enfatizam a vontade de seguir em frente, como o belo “A tsunami e as cerejeiras em flor”, de Lucy Walker, que concorreu ao Oscar de melhor curta, e “Japão em um dia”, produzido por Ridley Scott, inteiramente feito com cenas filmadas por cineastas amadores.

Por Claudia Sarmento (Agencia O Globo)

Publicado: 21/07/13


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