Quando toneladas de água radioativa vazaram de um tanque de armazenamento da usina nuclear de Fukushima, e outros tanques apressadamente instalados pelos operadores também encontraram problemas, Yoshitatsu Uechi não ficou surpreso. Agora, ele imagina se um dos tanques que ele construiu será o próximo.
Ele é um mecânico de automóveis, que foi um motorista de ônibus turístico por um tempo. Ele não tinha experiência em construir tanques ou trabalhar em uma usina nuclear, mas, por seis meses no ano passado, ele fez parte de um time que tentava freneticamente criar novos lugares para armazenar a água contaminada.
Uechi e seus colegas estavam sob tanta pressão para construir os tanques rapidamente que eles não esperavam que o clima estivesse seco o suficiente para aplicar o revestimento anti-ferrugem sobre os parafusos e sobre as juntas, como deveriam. Eles faziam o trabalho mesmo na chuva ou na neve. Às vezes, a fundação de concreto que eles faziam para os tanques ficava bamba. Outras vezes, os funcionários viam os tanques serem usados para armazenar água antes mesmo de serem finalizados.
“Devo dizer que nosso trabalho de montagem dos tanques foi um trabalho desleixado. Tenho certeza de que é por isso que os tanques já estão vazando”, disse Uechi, de 48 anos à Associated Press de sua cidade natal, na ilha de Okinawa. “Eu me sinto nervoso toda vez que um terremoto faz tremer essa área”.
Funcionários, especialistas e dois outros trabalhadores entrevistados pela AP disseram que a qualidade dos tanques e suas fundações sofreram por causa da pressa. Pressa que era inevitável porque havia grandes quantidades de água contaminada vazando dos reatores danificados, que se misturava com o fluxo de água subterrânea.
“Estávamos em uma emergência e tínhamos que construir os tanques o mais rápido possível, por isso sua qualidade é a mínima”, disse Teruaki Kobayashi, um funcionário responsável pelo controle das instalações para a operadora da usina, a Tokyo Electric Power (Tepco).
Vazamentos e outra falhas encontradas em muitos tanques despertaram preocupações de que possam haver novas falhas ainda mais perigosas, particularmente se outro grande terremoto, tsunami ou tufão atingir a região. A usina sofreu uma tripla fusão após um terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão em 2011.
A usina se estabilizou, mas a descontaminação deve levar décadas. Os efeitos ambientais da água radioativa vazando no oceano não estão claros. Cientistas geralmente concordam que o impacto até agora foi mínimo.
Kobayashi alertou sobre a necessidade de melhorar o projeto dos tanques e suas fundações. A usina tem mais de mil tanques e outros contêineres armazenando 370 mil toneladas de água parcialmente tratada, mas ainda levemente contaminada.
A Tepco recentemente acelerou a construção de tanques mais seguros e anunciou nesta quinta-feira (7) que o ritmo continuará sendo acelerado. “O pior cenário é acabar o espaço, e precisamos evitar isso”, disse o presidente da Tepco, Naomi Hirose em uma coletiva de imprensa. A companhia também anunciou planos de emergência de gestão de água que incluem manutenção adicional dos tanques. “Nunca pensei que precisássemos de tantas pessoas para cuidar desses tanques até dois meses atrás”, disse Hirose.
Grandes vazamentos – O problema com os tanques começou a chamar a atenção internacional, especialmente desde agosto, quando um tanque com capacidade de mil toneladas perdeu quase um terço de seu conteúdo tóxico. Um mês depois, a Tepco anunciou que grandes quantidades de água subterrânea contaminada estavam vazando para o Pacífico.
A Tepco continuará tendo que armazenar água por anos, até que a usina possa criar um sistema de refrigeração de ar para os reatores danificados, ou remover o combustível fundido de dentro deles, e desenvolver unidades avançadas que possam remover material radioativo da água e torna-la segura para ser liberada.
A fabricante dos tanques, TKK Co. disse que a montagem dos tanques é “como fazer um modelo de plástico” e determina a qualidade dos reservatórios. A empresa disse que os tanques são “uma providência temporária e emergencial para prevenir uma crise”.
Fonte: G1 - 09 / 11 / 2013
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