Mais uma audiência pública para discutir a instalação de um novo reator nuclear multipropósito no Centro de Pesquisas Experimentais de Aramar, em Iperó (SP), foi realizada na noite desta quarta-feira (23) emSorocaba (SP). O custo total da obra, prevista para ser finalizada em 2018, deve chegar a R$1 bilhão. O investimento é do Governo Federal por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Durante cerca de três horas, especialistas em tecnologia nuclear, representantes da sociedade civil, políticos e ambientalistas discutiram o projeto que será voltado às pesquisas científicas nas áreas da saúde, indústria, agricultura e meio ambiente. Além de estudar a produção de elementos químicos e fontes radioativas, o quinto reator nuclear de pesquisa instalado no Brasil também vai ajudar a testar a irradiação de materiais e combustíveis nucleares
Para Celso Darío Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, a instalação do reator é muito importante para a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos radioativos, chamados de radiofármacos que ajudam, por exemplo, nos exames de diagnóstico por imagem.
“Esses radiofármacos são usados para tratar diversas doenças, como por exemplo, o câncer de tireóide, em que a maneira mais eficaz de realizar o tratamento é por meio de um isótono radioativo de iodo", destaca.
A construção do reator, entretanto, provoca muitas discussões. Desde que o projeto foi divulgado, alguns moradores da região se posicionaram contra a obra com receio de que possam acontecer acidentes como os da usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011.
Gabriel Bitencourt, ambientalista, acredita que o reator possa trazer riscos para o meio ambiente e para a segurança da população. “Essa tecnologia ainda não é de domínio da comunidade científica. Os rejeitos radioativos, ainda não se sabe o que fazer com eles de forma que fiquem inertes e não contaminando o meio ambiente pelas centenas de anos que às vezes eles duram e os acidentes, quando acontecem, têm a dimensão de catástrofe," aponta.
A presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear, Ruth Soares Alves, descorda. “Não tem a menor possibilidade de um reator de pesquisa sofrer um acidente como o de Fukushima, primeiro porque as condições são muito diferentes das condições do Brasil, que não está sujeito a terremotos dessa magnitude, não tem tsunami. Segundo, que o reator de Fukushima é um reator potência, ele tem uma quantidade de energia muitas vezes superior a um reator de pesquisa, que trabalha com 5 megawatts, 8 megawatts, enquanto um reator de produção de energia trabalha com 1,5 mil megawatts, é muito diferente", salienta.
Para acompanhar de perto o andamento do projeto, o vereador Jessé Loures quer formar uma comissão na Câmara Municipal de Sorocaba. Ele critica a falta de clareza nas apresentações das audiências públicas e reclama que muitos pontos do projeto não estão bem explicados.
“Falta apresentar para a população um plano de emergência e de fuga, falta discutir e apresentar um plano de transporte dos rejeitos radioativos, falta apresentar um plano permanente de comunicação com a sociedade e com a população, e um plano para explicar de que forma e onde será feito o encaminhamento dos rejeitos radioativos", destaca.
Mais uma audiência pública será realizada nesta quinta-feira (24) em São Paulo, no auditório do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), para debater a questão.
Fonte:
G1 - Sorocaba e Jundiaí
24/10/2013 14h34 - Atualizado em 24/10/2013 14h43
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