O Irã deu muitos passos rumo à bomba atômica nas últimas décadas – e nenhum sinal de que pretende recuar em seu programa nuclear, como exige o Ocidente. Confira os principais fatos:
Década de 1950
Liderado pelo xá Reza Pahlevi, o Irã dá início ao programa nuclear do país. Em um acordo com os EUA, fechado no contexto do programa de Dwight Eisenhower denominado 'Átomos para a Paz', o governo americano se comprometeu a fornecer um reator de pesquisa nuclear para Teerã e usinas de energia.
1 de julho de 1968
Após o reator de pesquisa fornecido pelos americanos entrar em atividade em 1967, o Irã se torna a 51ª nação a assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Com a assinatura, Teerã concorda em nunca utilizar a energia nuclear para a fabricação de bombas.
Início da década de 1970
Em 1973, o xá Pahlevi cria a Organização de Energia Atômica do Irã, cuja finalidade era treinar mão de obra para trabalhar nas usinas e manter acordos nucleares com países como Estados Unidos, França, Alemanha Ocidental e África do Sul. Com o treinamento de engenheiros no Irã e no exterior, o país ganha um sólido conhecimento sobre tecnologias nucleares.
Um ano depois, a Kraftwerk Union, companhia da Alemanha Ocidental, se dispõe a construir dois reatores para produção de energia nuclear no complexo de Bushehr, ao sul de Teerã. As obras têm início em 1974, mas o contrato só é assinado em 1976. No fim da década de 1970, os EUA passam a demonstrar preocupações com a possibilidade de o Irã nutrir a ambição de construir armas nucleares.
1979
Manifestantes seguram cartazes do Aiatolá Khomeini após a partida do xá Reza Pahlevi do Irã, em 1979
Ano da revolução que acabou com a ditadura do xá Pahlevi, aliado dos Estados Unidos. O primeiro-ministro Shahpur Bakhtiar assume o poder e cancela um contrato de 6,2 bilhões de dólares para a construção de duas usinas nucleares no complexo de Bushehr. Os Estados Unidos também cancelam o contrato para fornecimento de urânio enriquecido a Teerã, que havia sido firmado no ano anterior.
Em fevereiro, o premiê é deposto por seguidores do aiatolá Ruhollah Khomeini, um clérigo exilado, após conflitos sangrentos em Teerã. Khomeini instalou uma teocracia no país e muitos especialistas em energia nuclear fugiram do Irã. A crise dos reféns na embaixada americana, entre novembro de 1979 e janeiro de 1981, acaba com qualquer cooperação bilateral.
Década de 1980
O aiatolá Ali Khamenei
A guerra entre Irã e Iraque, que ocorreu entre 1980 e 1988, leva o aiatolá a retomar secretamente o programa nuclear iraniano. Ele solicita apoio de aliados alemães para completar a construção no complexo de Bushehr, danificado por bombardeios durante guerra.
No fim da década de 1980, o engenheiro Abdul Qadeer Khan, que chefiou o programa nuclear do Paquistão, vende a tecnologia para Irã, Coreia do Norte e Líbia.
Em 4 de junho de 1989, o aiatolá Ali Khamenei, presidente do país durante oito anos, se torna o líder supremo do Irã após a morte de Khomeini.
Década de 1990
Em 1995, o Irã anuncia a assinatura de um contrato de 800 milhões de dólares com a Rússia para o término da construção dos dois reatores de água leve no complexo de Bushehr. O projeto só foi concluído em 2010. Enquanto isso, os Estados Unidos tentam convencer países como a Argentina, Índia, Espanha, Alemanha e França a proibirem a venda de tecnologia nuclear para Teerã.
Com os crescentes indícios coletados pela inteligência americana de que Teerã tentava desenvolver uma bomba atômica, o presidente Bill Clinton assinou em 1995 as primeiras sanções contra companhias estrangeiras que estivessem investindo no Irã. Tais regras já eram aplicadas a empresas americanas.
Em maio de 1999, o presidente Mohammed Khatami visita a Arábia Saudita, tornando-se a primeira autoridade iraniana a fazer uma viagem ao mundo árabe desde 1979. Ele apoia uma proposta para tornar o Oriente Médio livre de armas nucleares. Em 2003, o Irã apoiaria uma iniciativa semelhante iniciada pela Síria.
Primeira metade dos anos 2000
Usina nuclear de Natanz
Em 2002, um grupo dissidente iraniano conhecido como M.E.K obtém e divulga documentos revelando um programa nuclear clandestino que inclui uma vasta usina em Natanz e outra em Arak. No mesmo ano, o Irã concorda com inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. Entre 2003 e 2005, período em que o atual presidente Hassan Rohani conduziu as negociações nucleares do Irã com o Ocidente, o Irã prometeu à Inglaterra, França e Alemanha uma pausa no enriquecimento de urânio. A suspensão temporária foi usada para instalar sorrateiramente equipamentos na usina de Isfahan e aumentar o número de centrífugas na planta de Natanz, como o próprio Rohani admitiu em entrevista a um jornal iraniano, em 2011.
3 de agosto de 2005
O engenheiro Mahmoud Ahmadinejad é eleito para suceder Mohammed Khatami na Presidência. Entre 1997 e 2005, Khatami tentou implementar reformas no país, mas foi tolhido pelos aiatolás. Ahmadinejad, por sua vez, recolocou o país nos trilhos do fanatismo mais intransigente.
2006
A AIEA aprova em janeiro uma resolução para denunciar o programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança da ONU, citando “falta de confiança” entre os membros da agência de que “o programa nuclear iraniano é destinado exclusivamente para fins pacíficos”. Desafiando a perspectiva de sanções serem aplicadas contra o país, Ahmadinejad inaugurou formalmente a usina de Arak, a 250 quilômetros de Teerã, onde atualmente um reator de água pesada está sendo construído. A usina deve entrar em plena atividade em meados de 2014, quando será capaz de produzir plutônio para armas nucleares. Em dezembro de 2006, o Conselho de Segurança aprova por unanimidade um pacote de sanções contra o Irã, proibindo a importação e exportação de materiais e tecnologia usados no enriquecimento e reprocessamento de urânio e na produção de mísseis balísticos.
2009
A então secretária de Estado Hillary Clinton anuncia que os Estados Unidos vão participar das negociações com o Irã, que já envolvem outros cinco países: Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia. No ano anterior, os EUA tinham enviado um representante para uma reunião que terminou sem avanços, com o Irã negando-se a ceder em um ponto fundamental: a exigência de interromper o enriquecimento de urânio. Qualquer semelhança com o estágio atual das negociações entre o Irã e o grupo que ficou conhecido como 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) não é mera coincidência.
2010
Inspetores da ONU admitem pela primeira terem coletado indícios de que o Exército do Irã trabalhou para produzir bombas nucleares. O Conselho de Segurança da ONU também eleva as sanções contra o Irã, limitando compras, trocas e transações financeiras das autoridades responsáveis por controlar o programa nuclear. Os países membros dão o aval para que a comunidade internacional inspecione navios e aviões suspeitos de infringir o embargo. O Irã também é impedido de investir em usinas nucleares de outros países, minas de urânio e tecnologias relacionadas. Um comitê é criado para monitorar as sanções.
Também em 2010, um vírus de computador, o Stuxnet, verdadeira arma de guerra digital, infectou as máquinas da usina de Natanz e aumentou a velocidade das centrífugas, destruindo o motor de 1 000 delas. Os ataques cibernéticos ocorreram depois que Estados Unidos e Israel perceberam que o programa de sabotagem iniciado dois anos antes e introduzido na planta de Natanz estava disponível na Internet e sendo replicado rapidamente.
2011
Yukiya Amano, diretor-geral da AIEA
Novas sanções contra o banco central do Irã e bancos comerciais praticamente excluem o país do sistema financeiro internacional. Os EUA também impõem sanções contra companhias envolvidas no programa nuclear iraniano, além de limitar o comércio de indústrias petroquímicas e de combustível.
Em dezembro, um drone clandestino da CIA, RQ-170 Sentinel, cai perto da cidade iraniana de Kashmar, na fronteira com o Afeganistão. A aeronave tinha a finalidade de flagrar qualquer tentativa iraniana de construir uma nova usina nuclear. O Irã alega que o Exército derrubou a aeronave não tripulada, enquanto os EUA dizem que a queda foi causada por problemas técnicos.
2012
Mãe do cientista nuclear Mostafa Ahmadi Roshan lamenta sua morte
Em janeiro, dois sujeitos de capacete preto realizaram um atentado a bomba contra o carro em que estava o Mostafa Ahmadi Roshan, diretor da usina de enriquecimento de urânio de Natanz. Ele foi o quinto especialista do programa nuclear iraniano a ser atacado em circunstâncias misteriosas, em um período de dois anos. Apenas um escapou. Os indícios apontam para a ação de agentes de Israel, país que mais tem a temer uma bomba atômica nas mãos do Irã. Ainda no primeiro semestre, o Irã anuncia a construção de 3 000 centrífugas para enriquecimento de urânio na usina de Natanz.
Um embargo ao petróleo iraniano imposto pela União Europeia entra em vigor em julho. Em retaliação, o Irã anuncia que pretende interromper o tráfego no Estreito de Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico. Em outubro, o rial, a moeda iraniana, despenca 40%, em decorrência das sanções impostas ao país. A moeda perde quase metade de seu valor no ano. Enquanto isso, a União Europeia reforça as sanções contra o país, proibindo negociações de indústrias nas áreas de finança, metal e gás natural.
2013 - Pré-eleições
Saeed Jalili, então negociador nuclear do Irã: sem avanços
Uma nova rodada de negociações com o grupo 5+1 termina sem avanços. Mas as seis potências concordam em permitir que o Irã mantenha um pequeno montante de urânio enriquecido a 20% - que pode ser convertido para o grau de fabricação de bombas com um simples processo adicional – para uso em um reator de produção de isótopos médicos.
As vendas de petróleo do país caem pela metade em decorrência da pressão internacional e restrições a transações financeiras.
Em março, o presidente Barack Obama afirma que o Irã demoraria mais de um ano para desenvolver uma arma nuclear. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que Israel tem “diferentes vulnerabilidades” e precisa fazer seus próprios cálculos em relação à ameaça nuclear do Irã.
2013 - Rohani presidente
A eleição do clérigo Hassan Rohani em junho foi apressadamente festejada como a de um político moderado, habilitado a conter o anseio dos aiatolás de construir uma bomba atômica. Ele tomou posse em agosto e adotou um discurso de conciliação, defendendo o diálogo com o Ocidente, mas sem dar qualquer sinal de que vá ceder nas negociações. Em um aguardado discurso na Assembleia Geral da ONU, deixou claro que o país não tem pretensões de abandonar o processo – que, contra todas as evidências, o Irã continua a afirmar que tem objetivos pacíficos. Rohani destacou que a aceitação “do direito inalienável do Irã” em enriquecer urânio é “o melhor e mais fácil” caminho para resolver a questão.
Dias depois, Obama e Rohani tiveram uma conversa por telefone, a primeira entre os presidentes dos dois países em 34 anos. Apesar da disposição demonstrada pelo presidente iraniano, é bom lembrar que a palavra final sobre as principais questões do país ainda é dada pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Fonte:
As listas de Veja - VEJA
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/enriquecimento-de-ur...
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