Exibição especial traz oito filmes sobre os perigos e os cuidados da energia nuclear
Por João Abrão, para o site Mais Goiás
Entre os dias 20 e 25 de junho, a Cidade de Goiás é sede do 19º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), mas também recebe outra prestigiada mostra de cinema. O 7º Uranium International Film Festival acontece nos mesmos dias e foi integrado à programação do FICA. Tendo como temática “filmes atômicos”, a mostra foi convidada a fazer parte do festival ambiental para relembrar os 30 anos do acidente do césio 137 em Goiânia.
Durante o festival, o Uranium irá exibir oito filmes com temática de energia nuclear mesclando curtas de ficção e documentários. Em seu catálogo, os três maiores acidentes radiológicos do mundo são contemplados: Chernobyl, Fukushima e Goiânia.
“Desde que percebemos que o Brasil continuava com o programa nuclear e ao mesmo tempo ninguém lembrava mais de Chernobyl e de Goiânia, pensamos em criar este festival educativo. Sabíamos que existia muitos filmes bons, mas que não eram conhecidos no Brasil. E um festival de cinema é a melhor maneira de divulgar estes filmes. Pouca gente sabe que o urânio é o combustível nuclear e pensamos em combater a ignorância nuclear com filmes”, conta Márcia Gomes de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Uranium.
As preocupações dela se provaram verdadeiras: a primeira edição foi em maio de 2011 e aí, logo antes: “isto aconteceu nas vésperas do último grande acidente nuclear que foi em Fukushima, no Japão, em março de 2011. Estávamos trabalhando para que a sociedade não esquecesse Chernobyl e Goiânia, mas dois meses antes da 1ª edição do festival aconteceu Fukushima. Assim continuamos, para não esquecer Fukushima e tantos outros acidentes nucleares e radiológicos pelo mundo afora”.
De lá pra cá, o festival ganhou relevância internacional, tendo edições em várias cidades do Brasil, como Recife, Salvador, São Paulo, Fortaleza e Natal. O cinema atômico também foi para o estrangeiro, com mostras em Nova York, em dez cidades na Índia, incluindo Nova Deli e Mumbai, também passou pela Jordânia, pela Alemanha, pelo Canadá, por Portugal e pelos Estados Unidos.
Segundo Márcia, não é difícil encontrar nem fazer curadoria sobre o tema, pois é um assunto que atrai cineastas e documentaristas do mundo inteiro, incluindo produções sobre o acidente em Goiânia: “Não foi difícil, porque temos excelentes filmes no acervo do Uranium Film Festival – cerca de 400 filmes atômicos. E desde a 1ª edição do festival, em 2011, recebemos boas produções sobre o acidente radiológico em Goiânia”.
Ela destaca a composição desta edição no FICA e as produções sobre o césio: “A proposta é levar o público a um breve passeio pelo universo atômico que nos cerca e refletir com a perspectiva de que o acidente em Goiânia não é um fato isolado e que se for esquecido poderá ser repetido. Vamos exibir o premiado Césio 137: O Brilho da Morte de nosso saudoso Luiz Eduardo Jorge e Amarelinha de Ângelo Lima”.
Entre outros destaques estão os filmes sobre Chernobyl e Fukushima: “Também quero destacar os belíssimos filmes que vamos mostrar sobre Chernobyl (7 anos de inverno) e sobre Fukushima (Abita). São filmes líricos, uma poesia que transborda a dor, a violência e a perda do futuro de tantas gerações. Além disso, vamos apresentar o documentário Pedra Podre sobre as usinas nucleares no Rio de Janeiro que indaga sobre o sistema de fuga em caso de um acidente, nos convidando a pensar que seria cômico se não fosse trágico a ausência de um plano de emergência eficaz. Fechamos a mostra com um documentário jornalístico (Revista da Morte) sobre os riscos da radiação dos aparelhos que as mulheres precisam passar para visitar seus companheiros nos presídios e que tem causado muitos abortos”.
“O mundo atômico não é um filme de ficção e nem está no passado, ele faz parte do nosso cotidiano”
Com a frase acima, a diretora sintetizou o Uranium e sua proposta. Ao falarmos sobre estes grandes acidentes, incluindo o do césio 137, ela comentou sobre a dificuldade em manter esta memória e esta preocupação vivas. “São poucas as pessoas que lembram do acidente, tanto aqui no Rio quanto em qualquer lugar do Brasil, porque, de um modo geral, nós brasileiros trabalhamos para esquecer tudo que não é bom, mas o problema de esquecer o que é ruim é que o esquecimento gera um grande risco para que ele aconteça novamente”, conta.
Em toda edição, relata Márcia, Goiânia é lembrada, com a exposição fotográfica Mãos do Césio, composta pelos acervos da AVCésio, do CPDoc Jornal do Brasil e do Instituto Memória Roberto Pires. “O acidente com o césio 137 em Goiânia só aconteceu por causa de um único motivo: falta de informação. Por isso não podemos parar, não podemos cansar de lembrar o que está esquecido ou desconhecido”.
E poder do cinema como educação é comprovado pela própria Márcia. A diretora conta que não se lembra da cobertura jornalística do acidente em 1987, mas que após ver um filme, o césio nunca saiu da sua cabeça: “Fiquei sabendo do acidente quando assisti o longa-metragem Césio 137: O pesadelo de Goiânia de Roberto Pires, na TV Brasil – não me lembro o ano que isso aconteceu, mas o filme nunca mais saiu da minha cabeça. Essa é a força do cinema e por isso criamos o festival”.
Por fim, Márcia finaliza contando que está muito feliz de participar do FICA: “Estamos muito felizes com o convite da organização do FICA justamente nestes 30 anos do acidente com o césio 137 em Goiânia. Afinal, o acidente começou porque não foi feito a disposição correta de um lixo atômico. O Uranium Film Festival é um trabalho de educação ambiental, porque desde a mineração do urânio até o depósito do lixo atômico tudo diz respeito a forma com que fazemos uso do nosso planeta”.
A programação completa do Uranium Festival e a sinopse dos filmes que serão exibidos podem ser conferidas no site.
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