Por Mark Bassets, para o El Pais
Obama aproveitará a reunião do G-7 em Ise-Shima (Japão) para visitar Hiroshima em 27 de maio ao lado do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. No local, Obama “enfatizará seu compromisso contínuo com a busca da paz e a segurança de um mundo sem armas nucleares”, segundo um comunicado da Casa Branca.
O gesto de ir até a cidade onde os Estados Unidos lançaram a bomba atômica rompe um tabu na política externa norte-americana. O temor era que uma visita de um presidente a Hiroshima desse margem a interpretações de que se desculpava. O presidente Jimmy Carter, democrata como Obama, esteve em Hiroshima em 1984, três anos depois de deixar a Casa Branca.
O anúncio da visita de Obama chega depois de semanas de debate no Governo sobre a conveniência da viagem. Há um mês, John Kerry deu um primeiro passo ao se tornar o primeiro secretário de Estado norte-americano a visitar a cidade. Caroline Kennedy, embaixadora em Tóquio e filha do presidente com quem os EUA estiveram mais próximos de uma guerra nuclear com a União Soviética, também esteve em Hiroshima.
Obama buscará um equilíbrio delicado: reconhecer as vítimas, sem pedir perdão diretamente por um bombardeio que, com o de Nagasaki, levou à rendição do Japão e pôs fim à Segunda Guerra Mundial. Desde o fim da guerra, os EUA são aliados estreitos do Japão.
“Não revisará a decisão sobre o uso da bomba atômica no final da segunda Guerra Mundial. Em vez disso, apresentará uma visão para o futuro centrada em nosso futuro compartilhado”, escreveu Bem Rhodes, o vice-assessor de segurança nacional de Obama, na publicação Medium. “Com a visita, o presidente jogará o foco no tremendo e devastador custo humano da guerra.”
A visita será um forte gesto simbólico: uma tentativa de virar a página de um episódio que marou a relação entre Tóquio e Washington. Também é um sinal sobre a força dessa aliança em um momento em que vários países asiáticos veem com inquietação as ambições da China como grande potência regional.
A viagem ao Vietnã e ao Japão, entre 21 e 28 de maio, certamente será a última ocasião para Obama, antes de deixar a Casa Branca, em janeiro, afiançar o giro estratégico na direção da Ásia, uma das prioridades de sua política externa.
O gesto conecta com outra prioridade de Obama: reduzir as armas nucleares e, a longo prazo, acabar com elas. Sua defesa de um mundo sem armas nucleares lhe valeu a concessão em 2009 do Prêmio Nobel da Paz. “Como única potência nuclear que usou a arma nuclear, os Estados Unidos têm a responsabilidade moral de agir”, disse em um discurso em Praga, no início de sua presidência.
Em seu mandato, Obama multiplicou os gestos de humildade, a aceitação de que os EUA cometeram erros e crimes no passado. Admitiu, por exemplo, que a política de enfrentamento de meio século com Cuba foi um erro, expressou compreensão com os receios do Irã em relação aos EUA depois do golpe de 1953 e admitiu que os EUA não estiveram à altura de seus valores durante o golpe na Argentina em 1976.
Isso levou alguns críticos de Obama a repreendê-lo por se dedicar a pedir perdão a outros países em vez de defender sem nuances o excepcionalismo do país –a ideia de que este é um país único, com uma missão especial na história da humanidade.
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