No debate sobre a conclusão das obras de Angra 3, há diversos pontos que precisam ser compreendidos pela população. Embora discutir em profundidade riscos e benefícios da energia nuclear exija o domínio de informações científicas, há coisas básicas ao acesso de todos, como o fato de que de repente, mesmo as melhores usinas podem explodir, como Fukushima, no Japão; que os rejeitos nucleares são um problema insolúvel pois não há ninguém que queira ser vizinho de um depósito desse tipo, e que a morte e as enfermidades por radiação são terríveis.
A decisão sobre a inclusão de novas plantas nucleares no sistema brasileiro passa também pelo bolso do consumidor. O professor aposentado da UFPE, físico com doutorado pelo Laboratório de Fotoeletricidade e Comissariado de Energia Atômica da França, Heitor Scalambrini Costa, critica a posição do Governo Federal de considerar Angra 3 uma prioridade. "A contribuição da energia nuclear na matriz energética do Brasil, por exemplo, continuará inexpressiva, em torno de 2% mesmo com Angra 3, enquanto o preço do megawatt-hora de origem nuclear chega a ser de 4 a 6 vezes maior, quando comparado a geração solar, eólica e hidráulica", esclarece.
Ativista ambiental e membro da Articulação Antinuclear Brasileira (AAB), o professor acredita que a subtração destas informações no debate público acontece para evitar formar uma opinião contrária à energia nuclear. "A nova usina implicará um aumento substancial na conta de energia de todos os consumidores brasileiros durante algumas décadas", alerta. Além disso, R$ 17 bilhões que faltariam para “acabar” Angra 3 (até agora gastou-se R$ 7,8 bilhões) dariam para abastecer 1 milhão de casas com módulos solares de 3 kWp cada uma (ao preço unitário de R$ 17 mil).
E vale o risco, sabendo que um acidente pode provocar uma tragédia social, econômica e ambiental de grandes proporções? "Sem dúvida, não existe nada de tão assustador do que um acidente com radiação liberada para o meio ambiente, atingindo toda forma de vida. A catástrofe de Fukushima provocou grandes emissões radioativas no ar, no solo e nas águas da região, e forçou cerca de 100.000 pessoas a abandonarem suas casas. Imagine agora o significado desta catástrofe para um país como o Brasil", avalia o físico.
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