RIO - O presidente do diretório estadual do Rio de Janeiro do PSB, prefeito de Duque de Caxias (Baixada Fluminense) Alexandre Cardoso, disse ontem ao Valor que o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, teve uma atitude "no mínimo pouco política" ao demitir de uma só vez, e sem aviso prévio, três dirigentes do PSB da direção da Indústrias Nucleares do Brasil (INB).
"Nós estamos tentando apaziguar e vem o ministro botar gasolina!", lamentou Cardoso. Neste momento, o PSB vive um momento difícil na aliança governista por conta da perspectiva do lançamento da candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente licenciado do partido, à sucessão da presidente Dilma Rousseff em 2014.
Hoje, o "Diário Oficial da União" publicou a demissão do presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, no cargo desde junho de 2007. Ele será substituído por Aquilino Senra Martinez, professor de engenharia nuclear da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
Também perderam seus cargos os diretores Samuel Fayad Filho e Athayde Pereira Martins. Segundo Cardoso, tanto os dois ex-diretores como o ex-presidente da INB são membros da direção estadual do PSB, sendo que Tranjan, segundo o prefeito, é também membro do Diretório Nacional do partido.
"Eu desconhecia qualquer movimento nesse sentido [de substituir os membros do PSB]. Não fui comunicado de nada. O ministro sabia que havia membros do diretório do partido na diretoria. Soubemos [das demissões] pelo "Diário Oficial"", afirmou o prefeito. Cardoso estranhou que Raupp tenha escolhido justamente um momento tão delicado nas relações do governo com o PSB para fazer as demissões. "E eu estou em uma costura para que não se discuta 2014 em 2013", lamentou o prefeito que estava ontem em Brasília.
Cardoso disse que a presidente Dilma "certamente" não estava informada sobre as filiações partidárias dos dirigentes demitidos da INB ao assinar suas demissões. O presidente do PSB fluminense acha que todo foi feito pelo ministro Raupp sozinho. O ministro tem como principal avalista no governo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para Cardoso, além de colocar lenha na fogueira desnecessariamente, Raupp demonstrou falta de compromisso com o setor nuclear, enfraquecendo os novos dirigentes da estatal.
A INB é a empresa responsável pela exploração e extração de urânio no Brasil e por toda sua cadeia de beneficiamento, até a transformação do minério em combustível nuclear. Ela vem trabalhando desde 2001, em parceria com a Marinha, no desenvolvimento das duas etapas do beneficiamento do urânio nas quais o Brasil é dependente do estrangeiro: o enriquecimento, que transforma o minério em combustível, e na conversão do urânio em gás, etapa necessária ao enriquecimento. Os projetos enfrentam falta de verba crônica.
No momento a INB possui uma pequena usina de enriquecimento, responsável por apenas 5% das necessidades das usinas nucleares de Angra 1 e 2. A empresa vem buscando ainda ampliar a produção doméstica de urânio que já tem sido insuficiente para alimentar as duas usinas e. Sem a ampliação, não será possível alimentar Angra 3, prevista para operar em 2016.
Chico Santos
Fonte: Valor Econômico
27/3/2013
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