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70 por cento dos nipônicos defendem abandono do nuclear

Os protestos contra a reactivação das centrais nucleares mostram que cada vez mais nipônicos rejeitam a energia atómica e exigem do governo resposta às consequências da catástrofe nuclear.

As manifestações realizadas no centro da capital japonesa ocorreram na véspera de se cumprirem dois anos sobre a catástrofe de Fukushima. O colapso da central de Daiichi, a 11 de Março de 2011, na sequência de um maremoto, deixou sequelas profundas e reavivou os traumas na única nação alvo de ataques com bombas atômicas (a 6 e 9 de Agosto de 1945, quando Hiroshima e Nagasaki foram devastadas pelos EUA).

Aos cerca de 20 mil mortos e desaparecidos resultantes da vaga destrutiva do tsunami de há dois anos acrescem dezenas de milhares de famílias evacuadas de uma vasta área contaminada. A exposição da população a elevados níveis de radiação provocou efeitos de dimensão trágica que só o futuro permitirá apurar. As falhas de segurança reveladas e os precários planos de contingência; os vínculos entre poder político e entidades supervisoras e as empresas do setor, mantidos no interesse da multiplicação dos lucros destas últimas; bem como os negócios no âmbito da reconstrução das três províncias mais afetadas (Fukushima, Iwate y Miyagi) e o desprezo pelas vítimas, consolidaram a desconfiança popular relativamente à produção de energia nuclear no arquipélago e o medo de que a situação volte a repetir.

Foi neste contexto e com estas razões que dezenas de milhares de japoneses, segundo os organizadores, aderiram às ações de contestação, as quais adquiriram um figurino de massas face à insistência do governo em reativar os 50 reatores existentes no território.

Contrariamente ao anterior executivo, do Partido Democrático, que prometia um país livre da energia atómica a partir de 2030, o gabinete em exercício, eleito em dezembro do ano passado e liderado por Shinzo Abe e pelo Partido Liberal Democrático, não fecha a porta à opção nuclear. Pelo contrário.

Os argumentos fundamentais prendem-se com a alegada falta de alternativas viáveis a curto e médio prazos e com a garantia de implementação de mais rigorosos padrões nas centrais. Na verdade, a continuidade da opção nuclear num território sujeito a periódicos abalos sísmicos, como é o Japão, só se justifica pelos fortes interesses corporativos que movem o sector.

O capital ordena

A confirmar tal fato, por estes dias o grupo francês Areva, fornecedor de equipamento, informou que até ao final deste ano o Japão reativaria seis reactores, e que dois terços dos restantes seguiriam semelhante caminho nos próximos anos. No mesmo sentido pronunciou-se a canadense Cameco, abastecedora de urânio.

As declarações obrigaram o ministro da Indústria, Toshimitsu Motegi, a assegurar que ainda nada está decidido, mas, sobretudo, confirmaram que não são os interesses da maioria dos japoneses que mais pesam sobre a matéria.

Uma sondagem recente indica que 70 por cento dos nipônicos defendem o abandono faseado da energia nuclear. Muitos milhares pretendem, igualmente, que o governo responda com seriedade e celeridade às consequências da catástrofe de Fukushima, denunciou-se nos protestos.

É que dois anos passados, mais de 300 mil pessoas permanecem deslocadas, metade dos quais sem direito a qualquer apoio público, uma vez que abandonaram as respectivas habitações por desconfiarem das medições oficiais dos níveis de radiação, sobre as quais, aliás, persistem suspeitas levantadas por diversas entidades nacionais e internacionais.

Milhares de vítimas apresentaram queixa contra o Estado e a Tokyo Electric Power Co (Tepco), não apenas porque, tal como as demais, ainda esperam por compensação, mas também porque não desistem de ver apuradas todas as responsabilidades.

A batalha não será fácil, já que, por exemplo, na prefeitura de Fukushima, importantes indicadores da monitorização dos níveis de radiação registrados após o colapso da central nuclear foram simplesmente apagados de uma base de dados.

Recorde-se que a Tepco já recebeu do erário público 32 mil milhões de dólares a título de compensação pelos custos do acidente. Paralelamente, aumentou as tarifas elétricas em 10 por cento.

Fonte: www.avante.pt/

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