Comunidades, agricultores, organizações da sociedade civil e pesquisadores se encontram em Santa Quitéria para refletir, debater e traçar linhas de ação sobre os impactos da mineração no Ceará.
Com o objetivo de articular cada vez mais o povo das comunidades que podem ser atingidas com esse projeto e que já estão sendo impactada com outras minerações no estado, a Articulação Antinuclear do Ceará realizou em meados de novembro sua III Jornada junto ao I Encontro Estadual do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, MAM - MAM. Gente que se ajuntou para tencionar a não concretização da exploração da Jazida de Itataia, em Santa Quitéria e para estudar, partilhar e pensar estratégias de qualificação do debate e linhas de ação quanto aos impactos da mineração do Estado.
Com a participação de aproximadamente 200 pessoas vindas de vários territórios e mais de dez municípios e um público predominantemente jovem, durante três dias, foram apresentados relatos, estudos e vivências de pesquisadores (as) e comunidades desenvolvidos ao longo dos últimos anos, tanto em Santa Quitéria como em Caetité, na Bahia.
Entre as rodas de conversa, uma análise de conjuntura feita na manhã do primeiro dia por Soraya Tupinambá do “Mandato é tempo de resistência”, Psol, e Antônia Ivaneide (Neném), do MST, ajudou a entender o atual contexto sociopolítico do Brasil.
Além disso, foi apresentado um panorama sobre a “questão mineral no Brasil e no Ceará” com Charles Trocate, do MAM nacional; Raquel Rigotto, do Núcleo Tramas/UFC; Francisco Eufrásio, do Assentamento Morrinhos (Santa Quitéria); Cacique Lucélia Pankará, da Aldeia Serrote dos Campos (Itacuruba) e Francisco Pinheiro, do Sindicato dos/as Trabalhadores/as Rurais de Quiterianópolis.
“Eu venho da margem do Rio São Francisco, de uma cidade muito pequena, mas impactada por um projeto tão grande. Há cinco anos estamos na luta e não deixamos acontecer a construção da usina nuclear na nossa comunidade”, partilhou a Cacique Lucélia.
Na manhã do segundo dia de encontro, foi apresentado um painel de pesquisas sobre a ameaça nuclear, abordando dois eixos: “A construção social do risco de contaminação ambiental e humana dos trabalhadores/as da INB e moradores/as do entorno da mina de urânio em Caetité, Bahia”, facilitado pela professora Cláudia de Oliveira, da UFBA, e a “Construção compartilhada de conhecimentos – universidade, territórios e o debate sobre os riscos do Projeto Santa Quitéria”, debatido por Renata Catarina, do Núcleo Tramas/UFC. Houve, ainda, um momento de contextualização do processo de chegada da INB em Caetité e dos processos de resistência construídos pela Articulação Antinuclear Brasileira, espaço apresentado por Zoraide Vilasboas.
Nossa memória de Mariana, em Minas Gerais, que teve sua história marcada para sempre com o maior crime ambiental do Brasil. Um rio de lama, uma imensidão de rejeitos de minério que devastou tudo que encontrou pela frente. Lama que afogou a vida dos animais, das plantas e a vida da gente daquele lugar. Vidas matadas e vidas marcadas com um marrom cor de terra que não sai na água. Não importa o quanto lave. Ficará lá, como tatuagem.
Isso não pode ser esquecido, é preciso reverberar cada vez mais. Mariana evidenciou as inúmeras tragédias já ocorridas e não publicizadas e outras tantas que podem ocorrer por todo o país. Vidas ameaçadas todos os dias por um único motivo: o capital em detrimento das pessoas, da biodiversidade, da vida.
Uma das principais ameaças do empreendimento em Santa Quitéria é o consumo intensivo de água, estimado em 911.800 litros por hora. Isso representa um aumento de 400% sobre a demanda do Açude Edson Queiroz, de onde se prevê transportar a água através de uma adutora.
Enfim, durante o evento teve o lançamento do livro de história em quadrinho que traz como tema “EM DEFESA DA ÁGUA, DA JUSTIÇA E POR JUSTICA AMBIENTAL” e de um vídeo/documentário sobre a II Jornada Antinuclear ocorrida em 2015. Depois de toda reflexão, partilha e construção de estratégias para o enfrentamento em 2017, terminamos fazendo luta de RUA e dialogando com a cidade de Santa Quitéria.
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