Engavetados há 20 anos, os planos de expansão nuclear do governo britânico serão retomados pela administração do primeiro-ministro David Cameron. Dois novos reatores deverão ser construídos em Hinkley Point, em Somerset, sudoeste da ilha inglesa.

O anúncio é uma ingrata surpresa. Primeiro, porque chega em um momento em que a Europa retoma a discussão sobre o desligamento de suas usinas nucleares após o desastre de Fukushima — desastre esse, por sinal, que ainda resulta no vazamento diário de água radioativa para o mar.

Segundo, porque o próprio Cameron chegou a fazer declarações públicas em 2007 dizendo que o problema do lixo nuclear deveria ser solucionado antes de se fazer possível qualquer novo investimento. Pois é, seja no Brasil ou no Reino Unido, político costuma ter memória curta.

Seis anos após tais declarações, não apenas continuam faltando soluções para o destino final do lixo atômico, como sobram dúvidas em relação ao modelo de reator que se propõe construir. Os britânicos querem utilizar a tecnologia EPR (Reatores Europeus de Água Pressurizada), reator desenvolvido pela empresa francesa Areva e considerado o maior já projetado.

Apesar de a estatal francesa defender que o EPR é o mais seguro que existe, sua construção tem se mostrado de difícil execução. Até agora, nenhum EPR saiu completamente do papel. Na Finlândia, um reator desse tipo está com entrega atrasada há cinco anos por conta de defeitos identificados no concreto utilizado.

Mesmo com riscos de segurança tão evidentes, o governo britânico justifica seu projeto com base na suposta redução dos custos de eletricidade no futuro. Essa matemática, entretanto, não é tão simples. O preço das energias renováveis, como eólica e solar, está caindo em todo o mundo. Estima-se que, no Reino Unido, tanto a eólica offshore quanto a energia solar serão mais baratas do que a energia nuclear quando os reatores de Hinkley Point forem entregues.

Infelizmente, não é apenas o governo inglês que faz escolhas equivocadas. Mesmo com um potencial em energias renováveis para gerar até dez vezes a energia que é consumida hoje, o Brasil ainda insiste na construção de Angra 3. O custo previsto para esse empreendimento, atualmente, é da ordem de R$ 13,9 bilhões — 39% a mais do que o valor indicado em 2010.

Para fechar essa conta, o Brasil precisava de um empréstimo garantido pela Alemanha. Mas o país voltou atrás após alegar que a tecnologia utilizada na usina não era segura. Sendo assim, restou à Eletrobras recorrer a recursos da Caixa Econômica Federal. Em vez de financiar casa própria e saneamento básico, R$ 3,8 bilhões de recursos do banco serão destinados à construção de Angra 3.

Ricardo Baitelo é integrante do Greenpeace Brasil

Fonte: O Globo | Opinião - Ricardo Baitelo - Publicado: 25/11/13 - 0h00

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