O prof. pernambucanoWhodson Silvaanalisanova era nuclear
"A nova era nuclear: uma etnografia da retomada do programa nuclear brasileiro — ou uma crônica do futuro". Este sugestivo título da tese de doutorado em Antropologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais, do prof. Whodson Silva, desperta muito interesse entre os especialistas na área, mas principalmente entre os ativistas socioambientais que se articulam em luta, Brasil afora, contra a desnecessária, perigosa, cara e suja tecnologia atômica usada para produzir eletricidade. A pesquisa será apresentada amanhã (27/08/25) às 9:30h, com transmissão ao vivo pelo YouTube no canal do GESTA/UFMG pelo link: https://youtube.com/@grupogesta?si=d4I13_vFw2H3cD3a
Chama a atenção que a defesa desta tese aconteça justo neste período que a crendice popular considera o “mês do desgosto”. Neste mês, há 80 anos, os EUA praticaram os dois primeiros genocídios atômicos, matando milhares de pessoas nas cidades japonesas de Hiroshima (bomba de urânio - 6 de agosto de 1945) e Nagasaki (bomba de plutônio - 9 de agosto do mesmo ano). Inauguravam assim uma corrida armamentista global, que desembocou na atual “guerra nuclear limitada”, onde as armas atômicas táticas movimentam a bilionária e mortífera indústria bélica, sem que nenhum tratado de não-proliferação de bombas atômicas consiga barrar. Esta realidade de um mundo em crescente conflito evidencia que não há programa nuclear de fins pacíficos, como os nucleopatas querem nos fazer crer.
RISCOS DA NUCLEARIZAÇÃO
A expectativa é que os achados desta investigação possam trazer mais luz sobre a origem do programa militar paralelo do Brasil e as atividades atômicas civis, marcadas pelo secretismo, pela mentira institucionalizada, insegurança em radioproteção, incompetência técnico-operacional, denúncias de corrupção e falta de controle social. Ao contrário do declínio nos últimos anos da energia nuclear, a indústria atômica bélica vem recebendo vultosos investimentos para produzir armas. Por isto, é importante que se amplie o debate público sobre os desafios da expansão da nuclearização, inclusive de suas conexões e negócios com o rearmamentismo, uma vez que os interesses militares continuam dando o norte da errática política nuclear brasileira.
O professor Whodson Silva propõe a existência de uma nova era nuclear, distinta da concepção clássica da chamada “era atômica” do século XX — momento em que se domina o conhecimento do átomo e da produção da energia nuclear, seja na forma da bomba, seja na geração de eletricidade. Segundo ele, “no contexto atual da transição energética global, emerge uma nova narrativa em torno da energia nuclear, marcada por certo dogmatismo que a posiciona como a energia do futuro.” Essa ideia está baseada na crença do suposto baixo nível de emissões de carbono, atributo que lhe conferiria o status de “energia verde” e, portanto, de solução “ecologicamente sustentável”.
Com base nessa conjunção etnográfica, o autor examinou as continuidades e rupturas que caracterizam o campo nuclear no Brasil, observando como se atualizam, se reposicionam ou se recriam estruturas de poder na retomada do programa nuclear brasileiro. E demonstra que esse processo se articula nas esferas de negociação, investimento e institucionalização estatal, que, ao mesmo tempo, apropria-se de um discurso ambiental projetando uma crônica sobre o futuro.
Para ele, “o programa nuclear opera como eixo articulador de consensos políticos, capaz de reunir diferentes espectros ideológicos em torno de objetivos estratégicos de longo prazo. Essa convergência reitera aspirações históricas de poder, soberania e prestígio nacional, ao mesmo tempo em que atualiza e reforça padrões de violência e injustiça socioambiental.”
A persistência de projetos impostos sem consulta ou consentimento das comunidades afetadas, bem como a concentração dos prejuízos ambientais sobre populações vulnerabilizadas, revelam a continuidade de um modelo desenvolvimentista excludente. “Por meio de uma etnografia da retomada do programa nuclear brasileiro, a tese evidencia que, sob a crônica de uma nova era nuclear — pacífica, verde e sustentável —, subsiste um itinerário de conflitos ambientais que desafia as promessas de modernização, equidade e justiça supostamente associadas a essa matriz energética”, afirma o professor.
Zoraide Vilasboas - ativista por Direitos Humanos e da Natureza e facilitadora da Articulação Antinuclear Brasileira
Crônica do futuro nuclear brasileiro
por Articulação Antinuclear BR
terça-feira
O prof. pernambucano Whodson Silva analisa nova era nuclear
"A nova era nuclear: uma etnografia da retomada do programa nuclear brasileiro — ou uma crônica do futuro". Este sugestivo título da tese de doutorado em Antropologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais, do prof. Whodson Silva, desperta muito interesse entre os especialistas na área, mas principalmente entre os ativistas socioambientais que se articulam em luta, Brasil afora, contra a desnecessária, perigosa, cara e suja tecnologia atômica usada para produzir eletricidade. A pesquisa será apresentada amanhã (27/08/25) às 9:30h, com transmissão ao vivo pelo YouTube no canal do GESTA/UFMG pelo link: https://youtube.com/@grupogesta?si=d4I13_vFw2H3cD3a
Chama a atenção que a defesa desta tese aconteça justo neste período que a crendice popular considera o “mês do desgosto”. Neste mês, há 80 anos, os EUA praticaram os dois primeiros genocídios atômicos, matando milhares de pessoas nas cidades japonesas de Hiroshima (bomba de urânio - 6 de agosto de 1945) e Nagasaki (bomba de plutônio - 9 de agosto do mesmo ano). Inauguravam assim uma corrida armamentista global, que desembocou na atual “guerra nuclear limitada”, onde as armas atômicas táticas movimentam a bilionária e mortífera indústria bélica, sem que nenhum tratado de não-proliferação de bombas atômicas consiga barrar. Esta realidade de um mundo em crescente conflito evidencia que não há programa nuclear de fins pacíficos, como os nucleopatas querem nos fazer crer.
RISCOS DA NUCLEARIZAÇÃO
A expectativa é que os achados desta investigação possam trazer mais luz sobre a origem do programa militar paralelo do Brasil e as atividades atômicas civis, marcadas pelo secretismo, pela mentira institucionalizada, insegurança em radioproteção, incompetência técnico-operacional, denúncias de corrupção e falta de controle social. Ao contrário do declínio nos últimos anos da energia nuclear, a indústria atômica bélica vem recebendo vultosos investimentos para produzir armas. Por isto, é importante que se amplie o debate público sobre os desafios da expansão da nuclearização, inclusive de suas conexões e negócios com o rearmamentismo, uma vez que os interesses militares continuam dando o norte da errática política nuclear brasileira.
O professor Whodson Silva propõe a existência de uma nova era nuclear, distinta da concepção clássica da chamada “era atômica” do século XX — momento em que se domina o conhecimento do átomo e da produção da energia nuclear, seja na forma da bomba, seja na geração de eletricidade. Segundo ele, “no contexto atual da transição energética global, emerge uma nova narrativa em torno da energia nuclear, marcada por certo dogmatismo que a posiciona como a energia do futuro.” Essa ideia está baseada na crença do suposto baixo nível de emissões de carbono, atributo que lhe conferiria o status de “energia verde” e, portanto, de solução “ecologicamente sustentável”.
Com base nessa conjunção etnográfica, o autor examinou as continuidades e rupturas que caracterizam o campo nuclear no Brasil, observando como se atualizam, se reposicionam ou se recriam estruturas de poder na retomada do programa nuclear brasileiro. E demonstra que esse
processo se articula nas esferas de negociação, investimento e institucionalização estatal,
que, ao mesmo tempo, apropria-se de um discurso ambiental projetando uma crônica sobre o futuro.
Para ele, “o programa nuclear opera como eixo articulador de consensos políticos, capaz de reunir diferentes espectros ideológicos em torno de objetivos estratégicos de longo prazo. Essa convergência reitera aspirações históricas de poder, soberania e prestígio nacional, ao mesmo tempo em que atualiza e reforça padrões de violência e injustiça socioambiental.”
A persistência de projetos impostos sem consulta ou consentimento das comunidades afetadas, bem como a concentração dos prejuízos ambientais sobre populações vulnerabilizadas, revelam a continuidade de um modelo desenvolvimentista excludente. “Por meio de uma etnografia da retomada do programa nuclear brasileiro, a tese evidencia que, sob a crônica de uma nova era nuclear — pacífica, verde e sustentável —, subsiste um itinerário de conflitos ambientais que desafia as promessas de modernização, equidade e justiça supostamente associadas a essa matriz energética”, afirma o professor.
Zoraide Vilasboas - ativista por Direitos Humanos e da Natureza e facilitadora da Articulação Antinuclear Brasileira